Ao analisar a história do Brasil – e nem é preciso sair dessa década para isso – é fácil enxergar várias situações de tragédia. Na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, 242 pessoas morreram no incêndio da boate Kiss, na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul.
As unidades de pronto atendimento não estavam preparadas para receber essa quantidade de feridos. A cidade não tinha capelas suficientes para velórios individuais. As informações ainda estavam desencontradas e os profissionais tinham dificuldade em dar assistência aos familiares. O que você, como profissional da saúde, faria nessa situação?
Como os enfermeiros da região agiram
Fica difícil até pensar nessa resposta. O documento Depoimentos de profissionais de saúde sobre sua vivência em situações de tragédia: sob o olhar da Política Nacional de Humanização (PNH) conta relatos de enfermeiros que receberam os pacientes nesse primeiro momento. Um enfermeiro relatou que as pessoas chegavam apenas com uma fita adesiva de identificação no peito. Outro contou que os pais tinham dificuldade em reconhecer os seus filhos por conta das queimaduras. Alguns relataram a empatia exercida por parte da equipe, já que foi necessário reunir todos os profissionais, mesmo os que estavam fora do seu turno ou de férias.
A Revista de Saúde Dom Alberto com o tema Atuação Multiprofissional e Solidariedade diante de uma Tragédia sob a Perspectiva da Enfermagem e Serviço Social relatou a atuação de seis estudantes de enfermagem em um hospital privado no dia da tragédia. O texto conta que, além de todos os profissionais, estudantes de enfermagem e medicina foram convocados para atuar como voluntários tanto no atendimento aos pacientes, como na assistência aos familiares e amigos.
O documento ainda aborda de outro ângulo a situação dos pacientes que chegavam para atendimento: “Muitas vítimas chegavam ao hospital de forma consciente e, em poucos minutos, o óbito era declarado. A intensa dor e o sofrimento causados pelas queimaduras, fraturas e a própria angústia respiratória provocada pela fumaça tóxica fizeram com que muitos pacientes fossem sedados”.
Dentre as atividades exercidas no momento da “guerra” com pacientes lutando pela vida, estavam “montagem de uma UTI de apoio, ressuscitação cardiopulmonar, punção periférica para instalação de medicação analgésica e solução fisiológica, curativo nas regiões lesionadas por queimaduras, auxílio na identificação das vítimas que chegavam e suporte emocional aos familiares.”
Atendimento humanizado e compassivo
Nesse cenário de angústia, a “solução”, se é que existiu uma para essa situação, foi criar novas alternativas e quebrar protocolos pré-estabelecidos. Todos os profissionais precisaram reunir a totalidade de seus conhecimentos para aplicar naquele momento. Os cuidados da enfermagem básica, intensiva, pós-mortem, assistência emocional e conforto.
Apesar do cenário ser impactante, o profissional precisa se manter o mais preparado possível. A primeira questão é entender que, nesse momento, o atendimento precisa ser humanizado, feito com responsabilidade e o mais ágil possível, já que cada minuto é fundamental para a boa recuperação do paciente e para livrá-lo da morte.
O que seriam dos pacientes e familiares sem uma equipe de enfermagem qualificada? Episódios como desabamento dos prédios em Muzema no Rio de Janeiro, o massacre na escola de Suzano, o incêndio no Ninho do Urubu, CT do Flamengo. Ninguém se prepara para essas tragédias, mas o profissional de enfermagem é uma peça fundamental nessas situações. Vale a pena para o enfermeiro repensar as suas atividades diárias e valorizar cada atendimento prestado para que sua experiência seja usada nesses acontecimentos.